Polícia Federal desmonta maior esquema de corrupção já registrado no Instituto; entenda como funcionava a fraude, como vítimas podem se proteger e recuperar valores
A maior operação contra fraudes previdenciárias do Brasil
A Polícia Federal, em parceria com a Controladoria-Geral da União (CGU), deflagrou em abril de 2025 a chamada Operação Sem Desconto — considerada a maior investigação já realizada sobre fraudes em benefícios previdenciários no país. O alvo: um esquema nacional que desviou ao menos R$ 6,3 bilhões de aposentados e pensionistas do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), entre 2019 e 2024, por meio de descontos não autorizados de mensalidades associativas nos pagamentos desses beneficiários.
O presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, foi afastado do cargo após determinação judicial, junto com outros cinco altos servidores do órgão. Foram cumpridos 211 mandados de busca e apreensão e seis de prisão temporária, além do sequestro de mais de R$ 1 bilhão em bens ― incluindo carros de luxo avaliados em mais de R$ 15 milhões, joias, quadros e mais de US$ 200 mil em espécie apreendidos com investigados.
“Trata-se de uma operação de proteção de aposentados. Foram vítimas fáceis desses criminosos que se apropriaram de pensões e aposentadorias”, declarou Ricardo Lewandowski, ministro da Justiça e Segurança Pública.“
A investigação apurou a atuação de servidores públicos e entidades associativas sem estrutura operacional apta para prestar serviços que justificassem a cobrança dos descontos. A ação cobriu 14 unidades da federação, com mais de 700 policiais federais e 80 servidores da CGU envolvidos.
Como funcionava o golpe dos descontos indevidos
A fraude começava com entidades associativas, que firmavam acordos com o INSS para realizar descontos relativos à prestação de supostos serviços (como convênios de saúde, benefícios funerários, auxílio jurídico ou descontos em academias). Porém, auditorias realizadas em 29 dessas entidades constataram que 72% delas nunca apresentaram documentação adequada para justificar os descontos — e sequer tinham estrutura para ofertar qualquer benefício real aos associados.
Mais grave ainda: a maioria dos 6 milhões de beneficiários atingidos nunca autorizou tais descontos. O valor desviado saltou de R$ 413 milhões em 2016 para R$ 2,8 bilhões apenas em 2024. Segundo as autoridades, cerca de 190 mil denúncias de descontos indevidos foram formalizadas somente neste ano.
O prejuízo aos aposentados e pensionistas
O principal impacto para as vítimas foi o arrocho financeiro: muitos aposentados e pensionistas, grande parte deles gente idosa e vulnerável, viram suas rendas mensais reduzidas de forma silenciosa e contínua, sem saber a origem das retiradas. As cobranças vinham detalhadas nos contracheques sob rubricas difíceis de identificar, relacionadas a associações das quais jamais participaram.
Além do prejuízo financeiro, os riscos incluem a exposição a golpes ainda mais agressivos (como falsos empréstimos), dificuldade de pagar contas básicas e perda de acesso a benefícios realmente necessários.
Como cancelar descontos indevidos e garantir direitos
Para quem identifica descontos não autorizados em seu benefício do INSS, o procedimento é o seguinte:
- Solicite revisão imediata dos descontos pelo site ou aplicativo Meu INSS
- No portal, acesse “extrato de pagamento” e confira todo desconto detalhado. Caso não reconheça alguma rubrica, clique em “solicitar exclusão de desconto associativo”.
- Se não conseguir via aplicativo, ligue para a Central 135 para contestar.
- Solicitações também podem ser realizadas presencialmente em agências do INSS (com agendamento prévio).
- Denúncias de esquemas são recebidas pela Ouvidoria do INSS (no próprio portal) ou pela CGU.
- O beneficiário tem direito ao ressarcimento integral dos descontos indevidos, conforme legislação e determinações das autoridades.
O ressarcimento pelo governo federal
O governo promete ressarcir todos os aposentados e pensionistas lesados, conforme o resultado da apuração policial, das auditorias e determinação judicial. Os valores serão restituídos diretamente nos benefícios ou mediante pedidos formais, priorizando os que solicitarem pelo Meu INSS. Além disso, as entidades associativas investigadas tiveram seus acordos suspensos e não poderão mais debitar valores enquanto durar o processo de reorganização e revisão.
“Estamos suspendendo os acordos de cooperação técnica das entidades associativas para que haja reorganização. Todos terão direito à revisão e reposição dos valores”, confirmou Vinicius Marques de Carvalho, ministro da CGU.“
Como se proteger e identificar fraudes no INSS
Fique atento! Todo desconto no benefício do INSS deve ser autorizado por você. Acompanhe mensalmente seu extrato de pagamento. Nunca forneça dados pessoais e acesso ao Meu INSS a terceiros. Se identificar descontos desconhecidos, conteste imediatamente por canais oficiais. Em caso de dúvidas, busque orientação na Central 135 ou no Meu INSS, presencialmente ou online.
Fontes para consulta e esclarecimento
meu.inss.gov.br
www.gov.br
Central 135 (segunda a sábado, 7h às 22h)
Diante do maior escândalo de corrupção envolvendo a proteção social do país, o desfecho da Operação Sem Desconto marca uma nova era de controle, transparência e defesa do cidadão idoso — e um alerta: todo brasileiro deve fiscalizar seus próprios direitos e exigir resposta do Estado frente a abusos.